Para a realização do file #8, foi-nos proposto que visitássemos a 8 1/2 Festa do Cinema Italiano. Com a visita, para além de uma tarde de convívio, deveríamos recolher informações acerca da identidade visual e estratégias de comunicação do festival, bem como procurar tecer uma crítica sobre dois dos muitos filmes em exibição.
Il Boss (1973), Fernando Di Leo
FOCUS (MANI IN ALTO!)
25
de Março, 21h00
Teatro
do Bairro
Estamos em Palermo. A história inicia-se com o clã Attardi, reunido numa sala de cinema dedicada a filmes pornográficos, partilhando piadas indecorosas e rindo, satisfeitos com a façanha.
O retrato muda de figura quando Lanzetta (Henry Silva) invade o edifício e elimina brutalmente todos os que ali se encontram. Este é o primeiro momento do filme, aquele de despoleta toda a série de massacres que dá forma à acção.
Cocchi (Pier Paolo Capponi), o único sobrevivente da família Attardi, depressa se apercebe de que os rivais Corrasco são os responsáveis pelo acontecido. Assim, guiado pela sede de vingança, recruta novos homens e rapta Rina (Antonia Santilli), filha de um dos mais influentes membros do clã Corrasco.
O que se segue é uma repetição de violentos homicídios, numa guerra de famílias que parece só querer terminar quando todos os intervenientes se encontarem mortos.
Um trama com tanto de intrigas e traições que se torna mestre nas reviravoltas, ao princípio surpreendentes, mas que, com o exagero, perdem a sua força.
A violência é uma constante e parece querer ser a estrela do filme. Iniciando-se na sala de cinema (que nos é mostrada em chamas, com todos os corpos a arder), vai-se prolongando entre tiros, facadas e explosões, onde as imagens procuram o choque no espectador.
Com Rina, temos ainda um certo erotismo, uma nudez gratuita, promovida pela personagem.
Com uma banda sonora intensa, que oferece aos momentos altos do filme uma energia e ferocidade ainda maiores, Il Boss é um filme para sentir.
Mais do que nos revelar um pouco sobre a máfia, a sua hierarquia e os jogos de poder que a suportam, este filme é um olhar crítico sobre o estado social, apresentando-nos uma Itália corrupta com personagens como o comissário Torri (Gianni Garko), informador dos Corrasco.
Um retrato como este é impossível de dissociar de filmes como “O Padrinho”, um ano mais antigo. Ainda assim, é uma obra com uma forte capacidade de provocar não só reacções sentimentais, como também uma consciencialização do meio social.
É capaz de plantar dúvida necessária a uma mudança de mentalidade, com a constante atmosfera de dúvida que paira sobre todo o filme e se adensa na cena final, com o tão conhecido “To Be Continued".
Bellas Mariposas
(2012) , Salvatore Merreu
COMPETITIVA
27
de Março, 19h00
Cinema
São Jorge
Esta é a história de Cate (Sara Podda), contada por si na primeira pessoa.
Cate tem 11 anos e vive num pequeno apartamento situado em Cagliari com os seus pais e irmãos. A sua família está longe de ser funcional: o pai é um inútil e preguiçoso com um feitio complicado; a mãe, apesar de doente, é trabalhadora e esforçada; a sua irmã, com cerca de 20 anos, trabalha como prostituta para poder sustentar os seus dois filhos; o seu irmão está envolvido em negócios de droga e tem um gosto especial em maltratar Gigi (Davide Todde).
Dentro desta família disfuncional, esperar-se-ia por parte de Cate um sem fim de traumas convertidos em drama, suficientes para ocupar os 100 minutos de filme.
Mas,na realidade, não é isso que acontece. Bellas Mariposas é um diário muito pessoal do mais longo dia daquele Verão: o dia em que o irmão de Cate prometeu matar Gigi.
A
repulsa de Cate e da sua melhor amiga, Luna (Maya Mulas), por todo aquele ambiente e pelas pessoas que dele fazem parte, aguçam o seu sentimento habitual em qualquer adolescente, o da fuga.
Cate, embora de forma precoce, desenvolveu um comportamento em que piadas e brincadeiras se misturam com valores importantes para uma vida futura, como é o caso da amizade, preocupação e optimismo. Isso é demonstrado através da longa viagem que partilhamos com as raparigas.
De facto, neste filme, não somos meros espectadores, somos confidentes das raparigas. Estamos presentes e fazemos parte do seu grupinho (que, acrescente-se, é interpretado à imagem real de qualquer amizade real), tanto que nos é dirigida a palavra mais que uma vez ao longo do filme.
A jovialidade das personagens traz ao assunto uma leveza inesperada e, podemos dizê-lo, bem-vinda. É uma abordagem diferente aos tão já nossos conhecidos meios problemáticos, num misto de optimismo e quase fantasia.
Bellas Mariposas retrata uma Itália negligenciada e marginal, mas oferece-nos a esperança pelos olhos (e pelos passos) de duas simples raparigas que, têm como único objectivo não acabar como os seus familiares.
Comunicação Visual no Festival
De entre as várias estratégias publicitárias utilizadas na 6ª edição da Festa do cinema Italiano, encontramos os típicos cartazes, jornais, panfletos e postais. Para além disso, em suporte digital, conta com elementos como um site, um vídeo promocional e páginas em diferentes redes sociais.
O seu cartaz não passa despercebido. As cores nele utilizadas funcionam muito bem entre si e com o estilo da imagem representada (desenhada por Giuseppe Ferrario). Os locais de exposição deste objecto que pensamos atrair mais atenções ao projecto são as estações de metro, por onde passam, diariamente, centenas de pessoas.
O postal partilha a sua estrutura e apresentação com o cartaz, podendo ser encontrado junto da bilheteira dos espaços onde o festival se desenrola.
O programa do festival, em suporte de jornal, encontrava-se disponível nos cinemas e apresentava informação muito completa sobre a programação – desde os filmes (acompanhados de uma pequena sinopse) aos eventos mais particulares (como é o caso do Cinejantar). O seu estilo era muito semelhante ao do cartaz: moderno e simples, com uma utilização inteligente da cor (apontamentos a amarelo vivo, uma cor muito atractiva, que sobressai do fundo branco sujo do papel).
Os panfletos saem dos estilo geral do material publicitário. A imagem é muito estilizada e destoa daquela que se vê no cartaz, jornal e postais, mais realista, em estilo de cartoon. A cor amarela não está presente e a fonte tipográfica utilizada no título é diferente. Diríamos que estes panfletos parecem publicitar um evento diferente do apresentado no cartaz e nos postais.
Os bilhetes de cinema, quer no Teatro do Bairro quer no Teatro de São Jorge, eram iguais aos bilhetes para os outros espectáculos, não fazendo parte da panóplia de elementos publicitários específicos da Festa do Cinema Italiano.
Terminando, assim, a descrição do que podemos chamar meios convencionais, deve ainda dedicar-se a devida importância ao meio digital que, hoje em dia, mobiliza um grande número de pessoas, tendo como principais vantagens a partilha fácil e rápida e a dispersão da mensagem por uma maior área.
Assim sendo, deve referir-se a funcionalidade e coerência visual do site, que nos remete para as cores e forma do cartaz.
Com a página do facebook, é-nos fornecido acesso a todas as notícias nos meios de comunicação referentes ao Festival, bem como das coisas a acontecer nos mesmos. Por outro lado, na conta vimeo, podemos visualizar pequenos vídeos resumo de alguns dias do festival, onde é retratado o ambiente que se vive no espaço desta festa do cinema.
Nesta última conta, encontramos também o vídeo promocional do projecto, que nos mostra um pouco do que será o foco desta edição (Mani in alto!), com uma música e um grafismo que nos prendem a atenção.
De referir, por último, que esta festa conta com a participação de filmes muito recentes, sujeitos a uma avaliação por parte do público. Para isso, nestes filmes, da categoria Competitiva, é-nos entregue um pequeno papel com as duas personagens do cartaz representadas a preto e branco e o título do filme, seguidos por cinco estrelas não preenchidas. Segundo a sua apreciação, cada espectador classifica o filme, preenchendo o número de estrelas que quer atribuir. Os votos são posteriormente colocados numa caixa preta disponibilizada para tal. Penso que estes papéis suportaram bem esta ideia, graças à sua simplicidade e fidelidade para com o cartaz.
Resumindo, penso que este projecto conta com uma sólida e interessante identidade que em tudo se interliga com as estratégias de comunicação visual escolhidas.
Ambiente do Festival
Como o próprio nome indica, mais do que um mero festival de cinema, este projecto promete ser uma “festa”.
E os espaços escolhidos a isso propiciam.
No Teatro do Bairro, ao entrar na sala de cinema, descobrimos que esta se mistura com um bar. A atmosfera quase implora para que, após o filme, o espectador se sente numa das mesas, beba um café e converse um pouco sobre o que acabou de ver.
Por outro lado, o cinema de São Jorge, onde se desenrolaram a maioria das sessões, sugere-nos um programa diferente: porque não comer uma (deliciosa) pizza entre dois filmes? Os horários dos filmes e a beleza do espaço do bar convenciam qualquer um, a quem o aperitivo oferecido ao fim da tarde não tivesse bastado.
Esta é uma das interessantes iniciativas que ajuda este festival a tornar-se um agradável ponto de encontro para um serão bem passado: é-nos sugerido “entrar” na cultura Italiana, que muito valoriza o aperitivo, oferecendo-nos uma mostra gastronómica do país.
A Festa do Cinema Italiano mostra-nos mais do que o que esperávamos: é um lugar em que o cinema é ponto central, mas longe de
ser o único.
