File #7: 360º Ciência Descoberta

Posted by on terça-feira, 12 de março de 2013

360º - Ciência Descoberta



Como o nome, muito bem, nos elucida, uma exposição que pretende re-visitar a ciência como uma das imensas vantagens que    o povo ibérico alcançou nos séculos XV e XVI: "a tão nossa conhecida época dos Descobrimentos". 
Encontra-se no edifício sede da Fundação Calouste Gulbenkian até ao dia 2 de Junho. Criada de raiz por uma equipa portuguesa, esta ambiciosa exposição pretende, também ela, partir para outros destinos. Esta foi uma das premissas do projecto, que esteve presente desde a sua génese. 
Este fantástico projecto foi-nos apresentado no passado dia 5 de Março, primeiramente com uma palestra com os principais membros envolvidos no seu desenvolvimento e, mais tarde, com a visita
à exposição. Nessa primeira conversa, tivemos a oportunidade de ouvir, na primeira pessoa, o testemunho do processo de criação de algo que se quer informativo, interessante e envolvente, girando em torno de um assunto que todos conhecemos e, mais importante, sem incorrer no caminho do vulgar e (re)conhecido. Para nos contar essa aventura, estiveram presentes no auditório da nossa Faculdade Henrique Leitão (nomeado comissário da exposição pela Fundação), Mariano Piçarra (convidado por este último a construir uma imagem para a exposição)   e o seu amigo e colaborador, Luís Moreira (Designer Gráfico). 
A palestra pode ser dividida em três fases, que vão de encontro aos interesses dos três homens, o conteúdo, o desenvolvimento da exposição e a criação de uma imagem para esta. 
Quem primeiro se dirigiu a nós foi Henrique Leitão. Investigador auxiliar da Secção Autónoma de História e Filosofia das Ciências na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e, mais recentemente, eleito membro efectivo da Academia Internacional de História das Ciências, foi ele quem primeiro pensou o conceito desta exposição. 
Pretendia apresentar uma exposição científica com base nas descobertas feitas durante a expansão marítima. 
Assim sendo, e após uma pesquisa pessoal sobre o que seria um museu da ciência, deparou-se com duas primeiras grandes questões: “Como é que se expõe Ciência?” e “Como é que se re-visita o tema Descobrimentos, conseguindo surpreender o visitante?”.
Para a primeira questão, encontrou resposta num “estímulo orientado”. 
Algo que se afaste da massuda exposição que pensa poder ensinar ciência, mas também da exposição quase não informativa de que são exemplo os Centros de Ciência Viva. Pretende-se suscitar o interesse com parte da explicação, mas nunca o total da informação.


Quanto à segunda, apesar de ter sido mantida como âncora do projecto ao longo de todo o seu desenvolvimento, foi respondida pela metáfora presente em todo o espaço final. A “história” é-nos contada metafórica e alegoricamente, pelo que aquilo de que temos o conhecimento, 
é agora uma experiência nova que exige uma descoberta e uma procura. Após o primeiro contacto com Mariano Piçarra começaram 
a ser feitas reuniões com o objectivo de confrontar as ideias de todos os envolvidos no projecto. Desde cedo se aperceberam que a presença do designer nesta fase seria um benefício para o projecto, uma vez que este estaria mais envolvido e compreenderia melhor as suas necessidades específicas. Assim sendo, e estando a equipa reunida, as reuniões tornaram-se numa espécie de “brainstorm” em que todas as ideias eram ouvidas e avaliadas e, a pouco e pouco, foi sendo construída uma ideia do que seria esta exposição. 
Pelo processo passaram várias técnicas, desde os rabiscos, os desenhos mais elaborados ou até as maquetas à escala real do professor Mariano Piçarra. Recorreram ainda a outra improvável situação: reuniram-se com conhecedores das diferentes áreas científicas a expor e, após explicar o conceito do projecto,  
lançaram a questão “Se isto fosse vosso, o que é que fariam?”. 
Daí retiraram ainda mais... A linguagem escolhida baseou-se nas formas geométricas: módulos quadrangulares e a esfera como elemento em várias peças (com um simbolismo central por remeter ao domínio da esfera). Finalmente, e passando à identidade gráfica, houve uma grande preocupação em respeitar o contexto global, ainda mais acentuado do que em outros trabalhos, pelo envolvimento antecipado do designer com o projecto. Disto resultou um interessante conjunto de referencias que transmitem totalmente a mensagem desejada. 
A utilização do mapa, tabela e ilustração da planta do amendoim simbolizam, respectivamente, a expansão dos horizontes e a criação de mapas com o que se conhecia deste “novo” mundo, a importância das ciências matemáticas e o contributo para o conhecimento relativo à fauna e flora. O pequeno mapa, mostrado em forma circular é cercado por duas linhas – no hemisfério Norte a rota espanhola, no Sul a rota portuguesa – simbolizando a divisão do Mundo entre ibéricos.
Quanto ao título da exposição, para continuando o simbolismo, o “0” de 360º foi substituído pela caixa alta da letra “o”, estando a sua forma mais próxima de alcançar a esfera. Esta iconografia foi utilizada em cartazes, moopis, publicidade no jornal (uma destas inscrita numa faixa horizontal, ao contrário dos restantes objectos), catálogo, convite de inauguração e ainda a criação de panfletos referentes a um ciclo de conferências referentes ao tema. Quanto à logística da exposição, 
foi-nos apresentado o esquema dos objectos do museu, com a escala humana como comparação, que Luís Moreira utilizou no desenvolvimento desta fase. Enquanto isto, fomos elucidados sobre diversos pormenores a ter em conta neste tipo de trabalho, 
como é o caso dos níveis de texto. 


Fomos ainda alertados para o empenho que uma exposição exige, quer na sua fase de concepção, quer na sua finalização e materialização.Resumindo, nesta rica apresentação, assistimos a um raro momento de sintonia de um grupo de trabalho. Este projecto, dada a sua complexidade e interesse, levou a que uma equipa inteira se mobilizasse para criar algo novo e de valor. Para além disso, tivemos a sorte de ter três dos mais importantes membros deste a fazer-nos uma visita guiada ao que foi esta aventura que quebrou todas as regras da construção de uma exposição (que nunca teve guião, mas sim foi construída em divertidíssimas reuniões). Apesar de alguma informalidade, facto é que “roubou” aos envolvidos muito tempo e muito esforço, mas, no fim, valeu a pena.
Prova disso é a agradável surpresa que tivemos ao visitar o produto final. É, realmente, uma experiência que desperta o interesse, produz conhecimento e nos mostra um outro lado desta história que tão bem conhecemos. Tem presentes inúmeros pormenores que nos obrigam a interagir com ela para a compreender.Em alguns pontos, somos guiados por jogos de posicionamento e raio de visão, parte da geral linguagem metafórica, o maior trunfo da exposição.É, assim, um excelente projecto, muito bem conseguido e com todos os pormenores que podia e devia ter.

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